Analisar o racismo estrutural que existe na sociedade, denunciá-lo e encontrar alternativas para a mudança desta realidade, partindo principalmente da Educação. Nos últimos anos, esta tem sido uma das principais ações de Maria Clareth Gonçalves Reis. Professora associada da UENF, no Laboratório de Estudos de Educação e Linguagem (LEEL) do Centro de Ciências do Homem (CCH), ela se tornou mais uma das vozes ativas do país no estudo sobre as questões étnico-raciais.
Graduada em Letras e Pedagogia, com mestrado e doutorado em Educação, Clareth atua no Programa de Pós-Graduação em Políticas Sociais (PPGPS) da Universidade Estadual do Norte Fluminense Darcy Ribeiro. Atualmente é também coordenadora do Núcleo de Estudos Afro-brasileiros e Indígenas (NEABI/UENF) e da área científica “Quilombos, Territorialidade e Saberes Emancipatórios” da Associação Brasileira de Pesquisadores (as) Negros (as), juntamente com Givânia Silva (UNB/CONAQ). Um de seus principais desafios é levar essa temática para as salas de aula, como elemento de formação crítica e de combate ao racismo e todo o tipo de discriminação.
– Tivemos avanços importantes principalmente a partir de 2003, com a homologação das Leis 10.639/2003 e a Lei 11.645, de 2008. Posteriormente com a alteração da LDB [Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional), por meio do Art. 26-A, que trouxe a obrigatoriedade do ensino da história e da cultura afro-brasileira
e indígena em todos os estabelecimentos públicos e privados. Mas ainda há muito a se conquistar, porque temos o racismo estrutural impregnado na sociedade – afirma a professora, observando que, na UENF, há apenas quatro anos foi inserida uma disciplina obrigatória que trate as questões étnico-raciais no curso de Licenciatura em Pedagogia.
Como professora universitária, mulher e negra, Clareth percebe que um longo caminho já foi percorrido; mas considera que a estrada ainda é longa, sobretudo no que diz respeito à participação feminina nas instituições de ensino, especialmente, de mulheres negras.
– Ainda há um certo descrédito e até desrespeito com as mulheres nesses espaços, geralmente ocupados por homens brancos. Sinto que ainda precisamos lutar muito. Os trabalhos que oriento na graduação e, principalmente, na pós-graduação tratam da temática étnico-racial, e eu fico feliz porque muitas mulheres e homens negros têm procurado discutir essa temática. Isso é importante, porque estou aqui de passagem e quero formar outras pessoas para dar continuidade à luta antirracista. Este é nosso legado para que nossos alunos atuem criticamente, politicamente, e construam possibilidades para que realmente a gente erradique o racismo dentro da nossa sociedade – diz a professora.
Clareth Reis é nossa primeira entrevistada na série “Mulheres Presentes”. Durante todo o mês de março, publicaremos reportagens sobre mulheres do meio acadêmico e suas contribuições por um país melhor.
Fotos: Abilio Maiworm-Weiand